quarta-feira, 9 de julho de 2008

Parte VIII

“Jesus, Maria e José de ceroulas velhas! Mas como fede essa bruxa!” – pensou o Jovem Balconista, enquanto se ajeitava ao olhar para aquela figura assustadora.

- Vo-vou s-sim, a senhora pode me devolvê-lo?

- Claro, meu querido, mas, sob uma condiçãozinha... – disse a bruxa.

- E eu posso saber qual é? – perguntou o nosso herói, já prevendo que ela iria pedir o beijo necessário para completar o feitiço, como havia alertado Enid.

- Um beijo. – disse a bruxa, tentando disfarçar suas intenções, em um tom apaixonado.

- UM BEIJO!!! Arre! Sai para lá, dona Bruxa, que eu não sou doido não, tá! Eu sei que se alguém beijar um sapo, ele pode se transformar em príncipe, que se beijar uma princesa dormindo, ela acorda. Agora, beijar uma bruxa, fedida que nem a senhora é, eu não sei o que acontece não... Vai que eu fico fedidinho que nem a senhora, ou nasce uma verruga horrível no meu nariz que nem a sua... Eu héin?!

E nesse instante, rapidamente, o jovem rapaz pegou um punhado de terra no chão, lançando-o nos olhos da Dedéia, que, enquanto tentava voltar a enxergar, soltou o machado e sua varinha de condão.

Rápido como uma lebre, o Balconista embrenhou-se pela mata, enquanto Enid, que de alguma forma saltou de dentro da moita mais próxima, catava a varinha e fazia o mesmo em outra direção, para confundir os sentidos de Dedéia, de tal sorte que ela não soubesse para que lado cada um foi.

- DROOOOOOOOOGAAAAAAAAAAAAA! – disse a bruxa, enquanto coçava os olhos, e procurava sua varinha de condão pelo chão da mata.

O nosso herói conseguiu voltar para casa, levando a lenha que seus pais haviam pedido para preparar o jantar na estalagem. Lá chegando, perguntou se algum deles já tinha visto, ou ouvido falar da Bruxa Dedéia. Sua mãe quase cortou o dedo enquanto desossava um frango e seu pai tomou de um gole só a caneca de cerveja que segurava, tamanho foi o susto que tomaram com a pergunta.

Refeitos, eles contaram para o menino que a Bruxa e a Soberana de Liviolândia eram irmãs e que, em sua adolescência haviam firmado o pacto de que nunca se separariam. Para celebrar a união, a bruxa lançou um poderoso feitiço de imortalidade em ambas, após a irmã jurar que governariam juntas o Reino de LivinHood.

Mas o que Dedéia não desconfiava era que a megera nutria uma mágoa secreta porque no último natal a bruxinha havia ganhado um gatinho de estimação, o que ela sempre tinha querido. E logo que o feitiço da imortalidade foi feito, a megera acusou a irmã de traição real durante um sarau, porque ela tinha soltado um pum tão fedido, mas tão fedido, que espantou todos os convidados, causando a chacota de todo o Reino de LivinHood. Irada, a megera fez com que Dedéia fosse presa em um calabouço e condenada a tomar três banhos todos os dias, de tal sorte que fosse amenizado o cheiro de ovo podre que exalava de sua pele.

Após trancafiar Dedéia, a irmã se proclamou Soberana Suprema de LivinHood e, em um ato que demonstrou seu poder, modificou o nome do reino para Liviolândia, passando, então, a cobrar pesados impostos dos súditos do reino.

Inconformado com tamanha crueldade, o Jovem Balconista resolveu que era hora de dar um basta naquela situação. Iria procurar a Megera para resolver, de uma vez por todas, a situação dos moradores de Liviolândia, mesmo sabendo que sua única arma naquele momento era o medo que a megera tinha de que ele desse um beijo na bruxa...

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