segunda-feira, 2 de junho de 2008

Parte II

- Peraí, vó! - Belinha pulou na cama indignada. - Que história é essa de uréia?

"Droga", pensou. "Essa criança não dorme, cáspita!"

- O que tem a uréia, Belinha?
- Como assim, o que tem? Eu nem sei o que é isso, ora!
- Ué, você que escolheu o livro, dona Belinha! Eu bem que queria ler a Cinderela...
- Vó, alo-ou! Eu já sei a história da Cinderela de cor, né? E tem mais, esse negócio de carreira de mulher ser só esfregar o chão ou casar já era! Eu, no lugar da Cinderela, ia fazer faculdade...

- Bom, pelo menos você é esperta. - a avó não pôde deixar de sorrir.
- Claro, né, vó? Eu sou uma mulher moderna...
- Ah, sei, dona mulher moderna... Toma esse lenço aqui e limpa o nariz, ó...
- ...
- Ótimo, agora sim. Mulher moderna de nariz sujo não dá. Mas diz aí, Belinha...quer que eu troque o livro?
- Não, vó, eu quero esse! Mas dá pra fazer umas vozes e falar a minha língua?
- Ok, sua pirralhinha desaforada...vamos lá...

"
Naquela manhã, o dia estava frio e enevoado na província de Liviolândia. E, embora fosse muito cedo, o jovem balconista caminhava em direção à floresta em busca de lenha para abastecer a lareira da estalagem. Trazia um grande saco na mão esquerda e um pequeno machado apoiado no ombro direito e apenas o som de suas botas quebrando gravetos a cada passo rompia o silêncio da mata.

Subitamente, ouviu um tropel de cavalos ao longe, se aproximando pela estrada que passava ali perto, o que não tinha absolutamente nada a ver com a vida dele e com o que ele estava fazendo. Mas a característica mais notável do jovem balconista, depois de sua bela voz com que divertia os hóspedes, era a curiosidade monstruosa que tomava conta dele com bastante freqüência. Como sua mãe costumava dizer, "nem se ele tivesse nascido mulher seria tão curioso assim!". E movido por esta curiosidade é que caminhou na direção da estrada, sem nem perceber direito o que fazia.

O galope dos cavalos era cada vez mais alto, apareceriam a qualquer momento. Amedrontado, o jovem balconista deteve-se atrás de uma árvore - aquela não seria a primeira vez que sua curiosidade o teria metido em encrencas. E foi então que o tropel dos cavalos deixou de ser apenas um barulho: uma carruagem adornada em vermelho e dourado puxada por uma parelha de cavalos brancos aproximava-se em alta velocidade.

O jovem balconista mal teve tempo de se perguntar de quem seria a carruagem. A porta foi aberta e um volume envolto em panos escuros e esfarrapados foi jogado à margem da estrada. O "embrulho" rolou alguns metros entre os arbustos e foi parar aos pés do jovem balconista, que até prendia a respiração de expectativa e sentiu um arrepio gelado na barriga quando avistou a massa de cabelos ruivos aparecendo entre os farrapos. Uma mulher. Estaria morta?
".

Nenhum comentário: