terça-feira, 17 de junho de 2008

Parte V

(Toc toc... )

- Quem é? – disse a avó enquanto pousava o pesado livro por sobre o colo.

- Sou eu, mamãe. A Belinha já dormiu? – pergunta o pai, enquanto entrava no quarto.

- Não, meu filho, ainda estou lendo para ela...

- Lendo para ela, mamãe? Que história a senhora está lendo? Alguma das que eu conheço? Posso ficar aqui também? – perguntou ofegante, enquanto se enfiava por sobre as cobertas, fazendo com que Belinha começasse a resmungar alguma coisa.

- Você disse alguma coisa minha filha?

- Claro que não, papai! – disse a menina, fazendo uma cara angelical.

- Então, anda, mamãe, começa logo a história...

- QUEQUÉISSO papai? – gritou a criança, com as mãos na cintura, já de pé sobre a cama. - Como é que o senhor chega assim NO MEU QUARTO, meio da história QUE A MINHA avó está contanto PRA MIM e já quer ficar dando ordens? Héin? Posso saber!?

- Err... Claro, filhinha... Mamãe, por favor, continue de onde a senhora parou.

- Pois bem. – disse a avó – Não quero mais interrupções, tá bom?

- Quem é você? - perguntou o JB para a mocinha de...

- Peraí, mamãe, o que é “JB”?

- Você quer dizer, “quem” é, não é, meu filho? É o jovem balconista, o personagem da nossa história.

- Como assim “JB”??? – disse o pai em tom indignado. - Belinha, eu já não te disse para parar com esse negócio de siglas, porque isso é feio? E você mamãe?! Eu já não falei para a senhora parar de ficar dando trela para essa garotinha? – o semblante do pai naquele momento não era nada amigável, e ambas, Belinha e sua avó, sentiam que aquele não era o momento para discussões.

- Então, estamos entendidos! Nada mais de siglas! – esbravejou - E você, Belinha, trate de parar com essa sua mania, senão, você vai ficar sem o seu PS2, tá?! – disse em tom de ironia.

- Posso continuar a história? – perguntou a avó, já impaciente com os dois.

- ...
- Bem...

- Q
uem é você? - perguntou o jovem balconista para a mocinha de orelhas pontudas. – O que você veio fazer aqui?

Imediatamente Dedéia percebeu o que estava acontecendo, e, sabendo que seu intento não seria alcançado, desapareceu, deixando somente uma névoa acinzentada que fedia como pum.

- “Nossa Senhora da Ceroula Velha de Liviolândia”. Como fede essa bruxa! Com esse cheiro só pode ser a Dedéia! – disse a menina orelhuda ao ajeitar suas vestes.


- Como assim a “Dedéia”? – balbuciou o jovem balconista, enquanto procurava um lugar para sentar e se refazer do susto.

- É... era a Dedéia, e aquela carruagem vermelha e dourada era da... Bem... Ainda bem que eu cheguei a tempo de te salvar, porque, se aquela bruxa fedidinha consegue aquele beijo, toda a Liviolândia estaria perdida. Seria o fim de nós todos! Nossa, mas como fede!

- Peraí! Me explica direitinho o que está acontecendo aqui, que eu não estou entendendo nada!

- É assim, ó... – disse a garotinha, enquanto pegava uma maçã em seu alforje.

Ela contou para o jovem balconista que tinha visto a soberana de Liviolândia andando pela Floresta de LivinHood procurando umas ervas e resmungando que a bruxa Dedéia jamais a retiraria do trono, e que ela não conseguiria completar o feitiço para afastar a maldição que a baniu daquele reino. O feitiço era simples: quatro asas de um morcego caolho, um espirro de um gafanhoto, um grito de uma girafa, o sorriso de um palhaço triste e, de um beijo de um bravo jovem. A bruxa, depois de colocar tudo aquilo dentro de um caldeirão fervendo, deveria beber o elixir e dar 100 pulinhos no pé esquerdo em uma noite de lua cheia, repetindo:

“Encantado, encantadinho, você fica longe, bem distantezinho
Eu moro mal, mas é limpinho. Me faça voltar, voltar loguinho.
Para acabar com a megera, a do nariz empinadinho“.

Porém, o tempo da bruxa estava se acabando. Se não conseguisse tudo aquilo até a próxima lua cheia, seriam mais cem anos vivendo naquele mundo encantado.

- Mas como você sabe de isso tudo? – perguntou o jovem balconista.

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