domingo, 1 de junho de 2008

"A Lenda de Liviolândia" - parte I

"Era uma vez... Em um lugar muito, muito distante, havia um jovem balconista que, para ganhar algum dinheiro e ajudar seus pais, trabalhava em uma pequena estalagem, servindo beberagens aos viajantes cansados que se deslocavam por aquelas paragens. A estalagem ficava em no topo de uma colina verdejante, rodeada de árvores frondosas e um riacho de águas límpidas que se cruzava por meio uma ponte de pedra que tinha mais de duzentos anos. O estabelecimento era simples, porém muito familiar. Haviam cinco quartos para abrigar os tropeiros e uma cozinha que exalava um delicioso cheiro de ensopado todas as noites. Mesas redondas enchiam o amplo salão e um velho piano descansava no canto direito da sala, próximo ao balcão. O nosso querido balconista, desde seus 14 anos de idade, servia bebidas e, quando algum hóspede mais animado pedia, cantava para alegrar os corações empoeirados das estradas daquele reino.

A província de Liviolândia, local onde se passa a nossa história, ficava na exata distância de duas vezes a metade do caminho para qualquer lugar. Era um reino muito aprazível, com grandes florestas, rios caudalosos e de águas cristalinas e belas montanhas com picos nevados que mais se assemelhavam a montes de glacê, daqueles que seduzem as crianças nas vitrines de padarias. Havia também belas cachoeiras e corredeiras frias por onde nadavam trutas arco-íris e bosques, por onde pintassilgos e rouxinóis se aninhavam por sobre a sombra das laranjeiras em flor.

Porém, naquele lugar havia uma rainha. Uma soberana má que reinava por mais de 250 anos. Diziam que ela era imortal, fruto de um pacto de sangue feito com uma velha feiticeira chamada Dédéia. Dedéia era uma figura daquelas de meter medo em qualquer criança. Tinha um longo chapéu negro de ponta caída, preso à cabeça por uma grande fivela reluzente. Vestia-se com trapos que lhe cobriam boa parte do corpo, deixando à mostra somente seus dedos longos e nodosos e o rosto alvo que era marcado por um grande nariz enverrugado. Os poucos que a viram durante a noite e conseguiram relatar o ocorrido, contam que ela montava um feroz cão branco, ladeada por um gato, negro como a noite. Dizem que, na mata, só se via o brilho amarelo dos olhos do felino, que era contrastado pelo vermelho-sangue que emanava da órbita do cão montaria.

A lenda que os antigos moradores de Liviolândia contavam era de que ambas, a bruxa e a rainha, em uma noite de lua cheia, fizeram um pacto. Após costurarem o nome de seus amantes nos lábios de um batráquio gordo, enterraram alguns pertences daqueles em um jarro de barro e plantaram no lugar uma pimenteira e um pé de romã que foram regados, após repetirem algumas palavras ininteligíveis que se imagina extraídas de algum ritual celta de magia negra, com uréia. A partir de então nunca mais se soube da bruxa. Talvez por que tenha sido banida pela governante do lugar para um vilarejo próximo ao mar, para habitar alguma caverna, ou talvez, tenha se exilado por não poder suportar ver tamanhas atrocidades praticadas por aquela governante contra seu povo..."

Um comentário:

Lívia disse...

Só não vou dizer que "megera é a mãe", porque tenho muito apreço e respeito pela senhora que te criou, ta??

HUMPF!